Hugo Camacho, 19 anos, estreou-se na Seleção e foi praxado. A descendência madeirense abriu-lhe as portas à equipa das quinas. Ainda não fala português, mas promete aprender depressa.

corte de cabelo «é uma praxe» na equipa e é feito a quem se estreia pela Seleção Nacional, explicou Hugo Camacho, lusodescendente que conquistou a primeira internacionalização por Portugal frente à Bélgica, na ronda inaugural do Rugby Europe Championship 2024 (REC 2024). 

 Após um jogo de má memória (derrota por 6-10) para os lobos, Camacho regressou a Portugal com um novo look, menos cabelo e orelhas destapadas. O responsável pela obra de arte capilar foi o «padrinho, Pedro Lucas», jogador do Técnico que atua na mesma posição, médio de formação. 

 Hugo Gomes Camacho, nascido a 26 de maio de 2004, em Soustons, é uma das atuais caras novas da renovada Seleção Portuguesa após o Campeonato do Mundo de França- 2023. 

 No Stade Charles Tondreau, em Mons, nos arredores de Bruxelas, capital belga, o benjamim dos lobos, de 19 anos, entrou ao minuto 48 para substituir o seu «padrinho» de corte, Pedro Lucas. 

 No Centro de Alto Rendimento do Jamor, em Oeiras, falou com A BOLA sobre as raízes portuguesas. «Os meus avós e o meu pai nasceram no Funchal, na Madeira, e emigraram para Landes [região de Nova Aquitânia, sudoeste da França]. O meu pai [Luís Filipe]casou com a minha mãe, que é francesa», detalhou o mais jovem a integrar a convocatória para o REC 2024. 

 A velocidade e a precisão de passe deste pequeno, franzino e destemido jogador de 1,68m e 65 kg tem sido notada desde o passado 29 de janeiro no CAR do Jamor. Dia esse que também marcou a primeira vez que pisou solo português. 

Primeira vez em Portugal

 «Nunca estive na Madeira, nunca tive oportunidade de descobrir as minhas raízes portuguesas e nunca tinha estado sequer em Lisboa. É a primeira vez que estou em Portugal», acrescentou quem não domina o português. «Em casa falo francês com o meu pai, mas como o meu avô só fala português, peço ajuda ao meu pai para traduzir», disse sorrindo. 

 A ascendência lusa permitiu-lhe «pedir dupla nacionalidade no ano passado», em 2023, informou, seguindo os passos de outros lusodescendentes mundialistas no França-2023 como Nicolas Martins ou Steevy Cerqueira. «Não sonhava representar Portugal, nem ser lobo, mas ter a oportunidade de estar cá e vestir a camisola...Estou muito contente», confessou. 

 «Fui eu que escolhi ter dupla nacionalidade. Os meus avós são portugueses, o meu pai também, pelo que foi lógico pedi-la», atestou. «E isso ajudou ao contacto estabelecido pela federação», sublinhou o jogador do Bayonnais, clube do top-14, 1.ª Divisão francesa, com cuja camisola se estreou no ano passado, a 28 de maio de 2023, único encontro feito a titular entre os grandes do râguebi francês. 

B.I.

Nome — Hugo Gomes Camacho
Data de nascimento — 26 de maio de 2004 (19 anos)
Naturalidade — Soustons, França
Peso — 65 quilos
Altura — 1,68m
Posição — Médio de formação
Percurso clubes — Soustons (2009 - 2018); US Tyrosse (2018 - 2019); Aviron Bayonnais (2019 - 2024)
Percurso Seleção — 1 internacionalização: Bélgica, 3 de fevereiro de 2024

Apesar de só falar francês, a integração no seio dos lobos tem sido, por estes dias, facilitada pela ajuda linguística dos emigrantesportugueses. «O José Lima, Rodrigo Marta, Storti e Pedro Bettencourt falam francês e isso facilita», diz, ressalvando que em campo fala-se «português, francês e inglês», admitiu, sorrindo. 

A nova realidade competitiva poderá abrir-lhe as portas a uma nova aprendizagem. «Tentarei aprender [português]. É complicado, mas farei o melhor e o mais rápido possível para compreender e aprender», assegurou Camacho, jogador cuja referência portuguesa mora em França. «O jogador que mais admiro de Portugal é Samuel Marques», lobo que esteve presente no Mundial França-2023. 

Jogador desde os 6 anos 

«Comecei a jogar em Soustons, com seis anos. Foi o meu primeiro clube. Depois fui para o Aviron Bayonnais, cheguei aos 14 anos, fiz a formação, entrei nas Esperanças e agora profissional», resumiu rapidamente a carreira

 A tenra idade não lhe corta as pernas dos desejos de profissionalismo — via que quer seguir — e da permanência no top-14. «Assim espero», assumiu. 

 Caminho que segue em paralelo com o percurso académico. Um ano depois de atingir a maioridade está a finalizar os estudos na École des Sportifs de l’Aviron Bayonnais e falta-lhe «um ano» para entrar para a universidade.

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