Brasília se tornou oficialmente a terceira maior cidade brasileira, com um crescimento de 9,52% na última década, segundo dados do Censo 2022, divulgados na quarta-feira (28) pelo IBGE. No entanto, as cidades vizinhas à capital, que formam a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE), cresceram muito mais, sem que os serviços públicos acompanhassem esse aumento populacional.

No horário de pico o trânsito obriga trabalhadores e estudantes a saírem de madrugada de casa, para estar na parada de ônibus 5h da manhã ou não chegarão no seu destino até as 8 horas. Essa é a rotina dos moradores da maior cidade do Entorno, Águas Lindas de Goiás, segundo a moradora e estudante Beatriz Christina de Farias. O município goiano cresceu 41,59% na última década e tem hoje uma população de 225 mil habitantes.

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"A vida de quem mora em Águas Lindas é voltada para o DF. É lá que a maioria trabalha e é lá que boa parte estuda. Porém os benefícios não chegam até nós" afirmou Beatriz, que faz mestrado na Universidade de Brasília e integra o Levante Popular da Juventude. A principal queixa da estudante é o passe-livre estudantil, que existe no DF, mas não contempla os transportes do Entorno, o que leva as pessoas gastarem cerca de R$ 400 reais para estudar em Brasília.

O terceiro maior município do Entorno, Valparaíso de Goiás, com 198 mil habitantes, é uma das cidades que mais cresceu (51.68%), no entanto a dependência em relação ao DF continua, segundo conta a moradora e estudante de Letras da UnB Jennifer dos Santos Marques. "Valparaíso funciona quase como uma cidade dormitório. Escola, trabalho, universidade, tudo é do outro lado", descreveu Jennifer, também se queixando da falta do passe-livre para os estudantes do município.

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Para a Jennifer, que também é militante do Levante Popular da Juventude, apesar dos problemas Valparaíso atrai muitas pessoas por ser a cidade do Entorno mais próxima ao centro de Brasília e contar com preços de moradia menores que muitas Regiões Administrativas do DF. "O crescimento é completamente desigual. Enquanto o Valparaíso I é bem desenvolvido e frequentado, o Valparaíso II tem pouca infraestrutura e poucas linhas de ônibus, por exemplo" acrescentou a estudante.

Crescimento do Entorno

Praticamente todos os grandes municípios do Entorno cresceram mais que o Distrito Federal, segundo dados do Censo 2022. Um exemplo é a Cidade Ocidental, que cresceu 6 vezes mais que Brasília na última década e conta atualmente com uma população de 91.767. Para o antropólogo urbanista Paique Duques Santarém esse crescimento é fruto de um movimento duplo de migração, pois partes dos novos habitantes do Entorno eram moradores do DF e uma segunda parte são de outras regiões do país que migram para o Centro-Oeste - região brasileira que mais cresceu.

"As cidades do Entorno estão tendo um crescimento que congrega algumas coisas, como a própria expansão imobiliária e a expansão dos conflitos sociais para além do Distrito Federal e a migração", justificou Paique Santarém. Para ele é importante esse crescimento do Entorno para que urbanistas, pesquisadores e principalmente os movimentos sociais e a esquerda do DF passem a olhar para a região com outro um outro foco.

"São cidades que têm dinâmicas próprias, que têm perspectivas e construções culturais e sociais próprias, além disso tem este vínculo com o Distrito Federal. Então, mais do que pensar essas cidades atraídas pelo centro, há que se pensar também a dinâmica própria delas" analisou o antropólogo urbanista. Para ele, apesar de muitos moradores do Entorno trabalharem ou estudarem no DF, a maioria dessas cidades tem uma dinâmica econômica própria e também uma história que em alguns casos antecede a criação de Brasília, como Luziânia que foi fundada em 1746. 

Maiores cidades da RIDE e crescimento

Brasília - 2.817.068 - 9,52%

Águas Lindas de Goiás - 225.671 - 41,59%

Luziânia - 208.725 - 19,59%

Valparaíso de Goiás - 198.861 - 51.68%

Formosa - 115,669- 15,57%

Planaltina de Goiás 105,031- 28,78%

Novo Gama - 103.804 - 9,27%

Cidade Ocidental 91.767 64,12%

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Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino