Elon Musk anunciou na 2ª feira (29.jan.2024) na sua rede X (ex-Twitter) que uma de suas empresas conseguiu implantar um chip no cérebro de um paciente. “O primeiro humano recebeu um implante da Neuralink ontem e está se recuperando bem”, escreveu o empresário sobre a experiência realizada pela empresa dele que atua na conexão cérebro-máquina, a Neuralink. “Resultados iniciais prometem detecção de atividade de neurônio”, completou.
Musk costuma ser verborrágico, falastrão e excessivo, mas dessa vez foi lacônico. Parece uma estratégia com duplo propósito: evitar questionamentos científicos e não dar pistas do que a Neuralink está fazendo para não atiçar a concorrência.
publicidadeE a concorrência é pesadíssima. Quase todos os donos das big techsestão nessa disputa: Bill Gates (Microsoft), Jeff Bezos (Amazon) e Mark Zuckerberg (Meta) tem investimentos sobre em empresas que querem implantar chips em humanos. A razão é para lá de óbvia: todos sonham com máquinas controladas pelo pensamento, como nos sonhos infantis, na ficção-científica ou nos pesadelos distópicos.
Foi por essa mesma razão, para evocar a época dourada da ficção científica, que Musk batizou o produto implantado pela Neuralink de Telepathy (Telepatia).
A estimulação do cérebro por ondas elétricas é conhecida desde 1870, quando o neurologista Eduard Hitzig (1838-1907) e o anatomista Gustav Fritsch (1837-1927, ambos prussianos, abriram a caixa craniana de um cachorro em Berlim e estimularam o córtex do animal. Descobriram que o estímulo de diferentes áreas do cérebro por correntes elétricas fazia o animal se movimentar involuntariamente.
Musk usou terceiros para comprar o nome Neuralink em janeiro de 2017, dois anos depois de a empresa ter sido criada pelos professores Pedram Mohseni e Randolph Nudo no Estado de Ohio. Musk não quis saber da tecnologia que a dupla pesquisava. Ficou apenas com o nome e contratou especialistas de alto nível. Era mais um negócio do bilionário, dono da Tesla, Space-X, X, SolarCity e Hyperloop.
O resultado anunciado na 2ª feira (29.jan.2024) pelo empresário não é pioneiro. O 1º implante a dar resultado foi em 2004, num estudante norte-americano de 25 anos. Graças ao chip colocado em seu cérebro ele conseguia jogar Pong só com o cérebro. Nem se sabe se será revolucionário, já que não há detalhes científicos sobre o processo de implante e funcionamento.
Musk já contou alguns detalhes da pesquisa. Diz que quer criar uma conexão homem-máquina para ajudar pacientes com paralisia a controlar um cursor ou teclado de computador por meio do cérebro. Ele anunciou também que usa tecnologia sem fio e que o implante é feito por um robô criado pela Neuralink. Uma brochura (PDF – 272 kB) sobre os ensaios clínicos diz que os equipamentos usados nos testes (computador ou tablet) não são de mercado e que o período de testes vai durar 6 anos. Os testes clínicos foram aprovados pelas autoridades dos EUA em setembro de 2023.
O pulo do gato de Musk é a capacidade de miniaturização. Enquanto as empresas usam implantes com 100 eletrodos (todos micros em tamanho), o sistema dele tem 1.024 eletrodos, distribuídos em 64 fios, cada um deles mais fino do que um fio de cabelo.
Musk fez a postagem sobre o implante, vista no X por 42 milhões de usuários, porque precisa de dinheiro para as próximas fases do projeto e tem concorrente na frente dele. Há especulações de que os próximos estágios da pesquisa podem consumir algo próximo de US$ 1 bilhão, valor similar ao gasto no desenvolvimento de uma droga nova. A empresa que está na frente da Neuralink é a Synchron, de Nova York. Enquanto Musk espera finalizar seus testes em 2030, a Synchron já tem paciente fazendo compra e lendo jornal digital com o implante.
Musk tenta evitar que ocorra na área de implante de chip o mesmo que aconteceu com seus investimentos em inteligência artificial, área em que acabou ausente. Ele foi um dos investidores da OpenAI, que criou o ChatGPT, e deixou a empresa em 2018. Bill Gates fez investimentos pesados depois, da ordem de US$ 14 bilhões, e é até agora o maior beneficiado pelas pesquisas da OpenAI.
Musk tenta evitar que essa maldição se repita. Como é o homem mais rico do mundo (ou o segundo, a depender das oscilações de mercado), tem uma capacidade de levantar recursos que a Synchron nem sonha. O bom é que pesquisa em medicina acaba por beneficiar um grande público poucos anos depois de quebrar padrões científicos.
o Poder360 integra oautores